Escrito por: Pricila Baade
Zé Dirceu veio até a capital catarinense para lançar o seu livro “Memórias – Livro 1”, que conta um pouco da sua trajetória e falou o que pensa sobre os rumos do Brasil com o próximo governo
Tudo estava lotado. As cadeiras ocupadas, pessoas em pé nas laterais e sentadas no chão do auditório. A recepção e o subsolo da sede da Federação dos Trabalhadores no Comércio do Estado de Santa Catarina (Fecesc), no centro de Florianópolis, também estava cheio de gente Todos aguardavam ansiosamente, até que, às 19h30, José Dirceu, o líder histórico da esquerda e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, chegou.
O ex-ministro da Casa Civil do governo Lula e ex-deputado federal foi recepcionado com abraços, apertos de mão, muitos aplausos e com gritos de “Zé, guerreiro do povo brasileiro”. Zé Dirceu veio até a capital catarinense para lançar o seu livro “Memórias – Livro 1”, que conta um pouco da sua trajetória. Durante a noite dessa segunda-feira, 19 de novembro, Zé explicou que escreveu a obra porque Simone, sua esposa, dizia que ele precisava deixar registrado sua história de vida para Maria Antônia, sua filha que na época tinha cinco anos. “Na verdade eu escrevi para as gerações futuras, os jovens”. O livro foi feito quando ele estava preso, sem mesa, nem cadeira, Zé escreveu as quinhentas páginas sentado em uma cama, com uma luz baixa e recordando tudo o que lhe aconteceu de cabeça. “Tudo que está escrito saiu do meu coração”.
Zé Dirceu explicou que contou sua história para que o passado servisse de lição para o que está acontecendo hoje. Ele desafiou os presentes no auditório “Hoje, se olharmos a situação do país, eu tenho uma pergunta: nós seremos capazes de resistir?”. Ele falou de tudo o que pode-se esperar do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro, seu autoritarismo e seu programa econômico, comparando aos tempos de resistência da ditadura.
No meio da sua fala, alguns problemas de microfonia atrapalharam a fala de Zé Dirceu, mas nem por isso ele perdeu o humor “Se o nosso problema fosse o som, seria bom”, se referindo a situação em que vivemos no Brasil.
Ele falou sobre os ciclos da história que o país vive, afirmando que de tempos em tempos uma grande repressão destrói a organização, as lutas e conquistas da classe trabalhadora e que é preciso analisar com atenção o ciclo que o país está atualmente. Relembrando de como aconteceu o golpe militar no Brasil, fez uma comparação com o que está acontecendo agora. “Quando nos analisarmos Jair Bolsonaro, temos que ver as forças reais em que ele se sustenta. Não é só o voto (...) quem sustenta ele de fato? O capital financeiro bancário e grande parte das classes médias empresariais abraçaram ele. Este não é um governo que chega pra convocar eleição depois, é um governo que chega para reestruturar, como a ditadura fez”.
Para ele, a democracia já está sendo adaptada há algum tempo para atingir os objetivos da elite brasileira nas eleições – primeiro impediram Lula de ser candidato, já que ele ganharia as eleições em 1º turno; depois diminuíram o tempo de campanha no rádio e televisão e aumentaram ainda mais a influência da grande mídia nos resultados; e ainda proibiram o financiamento industrial e autorizaram os candidatos a financiarem as suas campanhas.
Zé Dirceu lembra que o que revoltou a elite foi o fato do governo de Lula e Dilma deram voz ao povo brasileiro “Eles se voltaram contra a mudança história dos trabalhadores não serem apenas mais eleitores e sujeitos passivos. Lula não fez um governo revolucionário, ele fez um governo de reformas – então por que derrubaram a presidenta Dilma? Foi pela expectativa de colocar em discussão no Brasil a propriedade e a riqueza, não só a renda”.
Para finalizar, ele deu um pouco de esperança e de rumo aos que ouviam sua fala. “Agora é hora de resistir, lutar e construir uma força política social de oposição a este governo”. Citou o papel dos partidos e do movimento sindical neste momento, reforçando que é importante construir uma agenda unificada para dar força à essa resistência frente aos ataques que irão acontecer ao povo brasileiro. “O caráter desse governo exige uma ampla frente democrática, em que os partidos não sejam os protagonistas e sim personalidades, que seja muito mais amplo do que a esquerda para enfrentá-lo”.Depois da sua fala, Zé Dirceu distribuiu autógrafos e tirou fotos com quem estava no lançamento.