Tentando entender o dia 17 de abril de 2016
Artigo da Secretária de Comunicação da CUT-SC, Adriana Maria Antunes de Souza, que participou das atividades em Brasília em Defesa da Democracia
Publicado: 25 Abril, 2016 - 09h55
Escrito por: Adriana Maria Antunes de Souza
Dia 17 de abril de 2016, o dia em que a Câmara dos Deputados do Brasil vota a admissibilidade de Impedimento da Presidenta do País. A acusação: “Pedaladas Fiscais”, que garantiram programas sociais como: bolsa família, Minha Casa Minha Vida, aposentadorias públicas entre outros. Abre parênteses (Pedalada fiscal, não é considerado crime de responsabilidade pela Constituição Federal, foi praticada por FHC, Lula e no mesmo ano que a Dilma, mais 16 governadores se utilizaram dessa prática) fecha parênteses.
Os autores do pedido do Impeachment são: os juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Junior e Janaina Paschoal. Hélio Bicudo: ex-Petista, militante dos Direitos Humanos, motivado por uma briga pessoal com Lula que se arrasta por mais de uma década. Desaponta seus filhos que se manifestam contrariados com a aliança do pai com a Direita reacionária. Há quem diga que ele não esta em pleno uso de suas faculdades mentais e sim, movido por um sentimento de vingança contra Lula e o partido que ajudou a fundar. Com certeza não dormirá tranquilo com o desenrolar da sua ação. Miguel Reale Junior: ex-ministro da Justiça de FHC, militante do PSDB, serviçal que não se conformou em perder a eleição pra Dilma, motivado pela intolerância política e o ódio. Janaína Paschoal: foi advogada do procurador Douglas Kirchner, acusado de agressão física e psicológica contra sua própria mulher, Tamires de Souza Alexandre. Ela alegou liberdade religiosa na defesa do agressor. Num momento de histeria pura proferiu um discurso fascista, carregado de ódio. Representa bem o grupo mais reacionário do Congresso (Bolsonaro, Feliciano, Malafaia). Motivada simplesmente por ódio e loucura. Os três, em comum têm uma indignação seletiva referente à corrupção; a tudo que envolve a esquerda, representada pelo PT, pelo governo Dilma e pelo ex-presidente Lula; a vontade de criminalizar movimentos sociais e seus militantes; e não se incomodam em entregar este processo a Eduardo Cunha, sobre o qual recaem diversas denúncias de corrupção e robustas provas da existência de contas no exterior abastecidas com dinheiro provindo de propinas e corrupção que remontam a década de 1990, conforme denúncia do Ministério Público Federal acolhida pelo Supremo Tribunal Federal.
Analisando os votos: Dos 367 votos a favor do Impeachment, 119 responderam ou respondem processo judicial. A maioria envolvendo dinheiro público e corrupção. Os dois casos mais ridículos foram o voto da deputada Raquel Muniz (PSD- MG) que saltitou gritando sim, sim, sim depois de ter citado o marido como prova de que “o Brasil tem jeito” e acordou no dia seguinte com o marido sendo preso por falsidade ideológica majorada, dispensa indevida de licitação pública, estelionato majorado, prevaricação e peculato. O prefeito, segundo a PF, usava de meios fraudulentos para inviabilizar o funcionamento de um hospital público e favorecer o hospital que pertence a ele e seus familiares. E o voto decisivo de Bruno Araújo, o de número 342 que é um dos políticos que tiveram seus nomes citados em planilhas da Odebrecht, apreendidas durante a Operação Acarajé, da Policia Federal, no final de março. Assustadora foi a justificativa de Bolsonaro que dedicou o voto ao torturador e estuprador da Ditadura Militar, Coronel Ustra. Bolsonaro deveria ter agradecido Helio Bicudo pela oportunidade da dedicação. Além destes, chama a atenção o esvaziamento de fundamentação para os votos sim: sobrou votos pelos pais, mães, filhos, netos, esposas, parentes e amigos, esqueceram da Xuxa e das amantes! Sobrou o uso do nome de Deus em vão, como quem tenta justificar uma ação diabólica em nome de Deus. Com certeza queimarão no fogo do inferno! Para garantir a cara de circo, houve os que votaram pela família quadrangular brasileira, pelos 60 milhões de pessoas com nome no SPC, para que as crianças não sejam induzidas a trocar de sexo nas escolas, pelos corretores de seguro, pela BR 429, pela paz em Jerusalém e assim vai... A única justificativa que não se ouviu foi o crime cometido pela Presidenta Dilma.
Fica muito fácil notar a diferença nas justificativas dos insuficientes, mas, coerentes e qualificados votos contrários ao impedimento. Foram manifestações consistentes, coerentes, extremamente qualificadas que citavam projeto de igualdade, de justiça, de inclusão. Reconheceram o povo que historicamente luta por direitos e por políticas de inclusão. A frase mais utilizada foi a de que Impeachment sem crime de responsabilidade, é Golpe!
Golpe este, que ganha corpo, ganha adesões inexplicáveis da sociedade e claramente tem o apoio muito forte dos políticos mais sujos da política brasileira. Golpe este, que preocupa intelectuais nacionais e internacionais, que preocupa organizações sociais e sindicais, pois é escancarada que a linha adotada pós-golpe é a linha dos patrões representada pela FIESP, que inclusive usa um pato roubado como símbolo. Pato que já é visto por muitos como um deboche aos trabalhadores que caíram no conto da carrochinha do mote “acabar com a corrupção”.
Para nós, passado o momento da ressaca pós-espetáculo de 17 de abril, temos que ter forças para continuar resistindo. Devemos olhar pra história e buscar os exemplos das batalhas perdidas que graças à resistência de lutadores e lutadoras garantiram as conquistas de hoje que vão desde direitos trabalhistas até liberdades individuais e coletivas. Com a consciência de que há muito ainda a se avançar para que possamos alcançar a justiça plena é que seguimos em luta!