Escrito por: Pricila Baade
CUT-SC, junto com outras centrais sindicais, organizou atividade com o Diretor técnico do DIEESE para mais de 60 dirigente do Estado
Com o avanço do coronavírus e a importância de manter o isolamento social, as atividades virtuais têm sido uma ótima alternativa para o movimento sindical, mesmo em meio à pandemia, continuar se atualizando e debatendo as ações em defesa da classe trabalhadora. Nesta quarta-feira (6) um seminário formativo virtual com o diretor técnico do DIEESE, Fausto Augusto Junior, reuniu mais de 60 dirigentes de Santa Catarina para debater sobre perspectivas do mundo pós-pandemia e o futuro do movimento sindical. A atividade foi organizada pela CUT-SC, junto com outras cinco centrais sindicais – CTB, CSB, CSP Conlutas, UGT e Intersindical.
Fausto iniciou o debate falando sobre os cenários possíveis com a pandemia de acordo com a política que os países adotam. O primeiro é um cenário otimista, que são os casos dos países que usaram política de hibernação para enfrentar a crise do COVID 19, como Nova Zelândia, Cuba e Argentina - e que estão tendo impactos muito menores, tanto econômicos, como no número de mortes. O segundo cenário é o intermediário, que se compara à situação dos Estados Unidos, Itália e Espanha. “Há 30 dias eu ainda tinha esperanças de que o Brasil poderia caminhar para o cenário otimista, mas hoje já vejo que estamos no cenário intermediário – que é de contenção, que vai lidando muito com a crise no momento em que ela está mais grave”.
O diretor técnico do DIEESE alertou que a explosão do número de mortes no Brasil nos últimos dias pode levar o país para o cenário mais pessimista, transformando-o no novo epicentro da crise do coronavírus. “O maior medo é que a gente atravesse a linha do caos e acho que Bolsonaro em vários momentos trabalha com esse cenário. Como a população vai reagir quando tivermos cinco mil mortes por dia?”. Para ele, as invasões de hospitais e saques em supermercado são só os primeiros sinais de algo muito mais grave e caótico, que abrir brechas para o governo colocar em prática uma intervenção militar.
Fausto também reforçou como o desmonte que vem sendo promovido no Sistema Único de Saúde desde o impeachment da presidenta Dilma, em 2016, em especial o congelamento dos gastos públicos, tem refletido no enfrentamento da crise do coronavírus “Uma parte dos problemas que estamos enfrentando na saúde tem a ver com o enxugamento no orçamento da saúde em um espaço de tempo relativamente curto. O orçamento previsto para a saúde em 2020 é o mesmo de 2011, um atraso de quase 10 anos”.
Sindicalismo pós-pandemia
Fausto alertou que a pandemia forçou as organizações e empresas a aprenderem a usar os meios tecnológicos em um espaço de tempo muito mais curto do que seria normalmente e que isso resultará em enormes mudanças no mercado de trabalho e grandes desafios para o movimento sindical “Todos aqueles problemas que já eram discutidos por nós para o sindicalismo pós-industrial enfrentar, agora foram acelerados pela pandemia. Teremos que aprender como lidar com o aumento da informalidade, dos autônomos e a multiplicidade de acordos individuais feitas a partir das Medidas Provisórias”.
Ele alertou que as mudanças estruturais que os sindicatos teriam de 2 a 5 anos para colocar em prática, agora terão que ser aceleradas para conseguir dar conta das mudanças no mercado de trabalho que virão na pós-pandemia “Precisamos rapidamente nos apropriar das tecnologias e das possibilidades de chegar no trabalhadores, colocando em ação aquelas estratégias que já tínhamos discutindo há pelo dois anos”.
A disputa por um novo projeto global
Para o diretor técnico do DIEESE o estamos vivendo é uma enorme disputa civilizatória que possibilita mudanças no mundo para dois caminhos opostos. De um lado está o avanço dos estados totalitários e o aumento da desigualdade, a exemplo de fatos parecidos que já aconteceram na história “A gripe espanhola, junto com a 1º Guerra Mundial e a crise de 29, foram três grandes crises - uma política, uma econômica e uma sanitária – que impulsionaram e fortaleceram os regimes totalitários no mundo, como o nazifascismo. Por isso, uma crise como a que estamos vivendo, que é uma crise pandêmica, junto com uma crise econômica e, no caso do Brasil, uma crise política, pode nos levar para regimes totalitários”
Mas, por outro lado, Fausto afirma que temos a possibilidade de caminhar para um mundo mais solidário e menos desigual, “Nunca as contradições do capitalismo foram tão expostas, nunca foi tão possível a gente, de fato, perceber que dá sim viver com menos e que é possível a gente ter outra visão do ponto de vista econômico”. Ele afirmou ainda que é fundamental que o movimento sindical esteja à frente da discussão desse novo projeto global “Do ponto de vista institucional, os sindicatos sempre tiveram o papel de ajudar a organizar a classe e construir projetos civilizatórios que transcendem a sua visão corporativa”.