Pesquisa do SINTE/SC revela dados preocupantes em relação a saúde dos/as trabalhador
Os dados levantados escancaram o adoecimento de quem trabalha na educação pública estadual de Santa Catarina e a falta de políticas do estado para garantir melhores condições de trabalho
Publicado: 08 Fevereiro, 2022 - 09h56
Escrito por: SINTE-SC
A educação está doente! Este é o diagnóstico percebido com a II Pesquisa de Saúde Docente realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina – SINTE/SC que entrevistou 1.576 trabalhadores/as durante os meses de setembro e outubro de 2021. A pesquisa é uma iniciativa da Secretaria de Saúde do/a Trabalhador/a para coletar dados e pensar ações para combater e cobrar do Governo do Estado um ambiente saudável aos/as trabalhadores/as da educação.
Os dados levantados escancaram o adoecimento de quem trabalha na educação pública estadual de Santa Catarina e a falta de políticas do estado para garantir melhores condições de trabalho. O secretário de Saúde do Trabalhador do SINTE/SC, Evandro Accadrolli destaca que a carga extenuante e as mudanças de trabalho geradas pela pandemia agravaram o adoecimento da categoria. “Dos/as pesquisados/as tivemos um resultado de quase metade da categoria (44,6%) que tiveram em 2021 algum problema de saúde. É um número altíssimo que preocupa e que exige medidas urgentes que priorizem a redução do adoecimento de quem trabalha na educação”, destaca Evandro.
De acordo com o Secretário, estes problemas decorrem da falta de concurso público e desvalorização salarial, que gera sobrecarga aos/as trabalhadores/as; das perseguições a liberdade de cátedra dos/as professores/as que acarretam em um crescente número de assédio moral e doenças mentais; e das mudanças do local de trabalho geradas pela pandemia e pelo sucateamento das políticas públicas.
PARA NÃO PREJUDICAR OS ESTUDANTES, OS/AS PROFESSORES/AS TRABALHAM DOENTES - Ínguas pelo corpo, dor de cabeça, vômito e necessidade de afastamento por carga de estresse e ansiedade. Esse foi o quadro em 2020 de Sandra Mara Santos Bergamo, professora de artes da Escola Professor Mario Garcia em Camboriú. Mesmo com a orientação médica de afastamento de 60 dias para cuidar da saúde, a professora que trabalha há 20 anos com educação e tem 50 horas semanais divididos na rede estadual e municipal, preferiu não se afastar no final do semestre e continuar na sala de aula mesmo doente, para não prejudicar os alunos.
O caso da professora Sandra é comum na rede estadual de educação, trabalhadores/as resistem em se ausentar da sala de aula, para garantir a continuidade do conteúdo e não prejudicar os estudantes. Na pesquisa de Saúde Docente foi diagnosticada que 68,5% dos pesquisados/as já foram trabalhar doentes e a principal justificativa (24,1%) foi que era para não atrasar o conteúdo aos estudantes.
“Eu já estava no final do semestre quando consegui atendimento com um psiquiatra. Pensei em aguentar até o final do ano, pois tinha receio do estado não substituir um professor na reta final do semestre e acabar prejudicando os estudantes. Peguei 15 dias de atestado e trabalhei mais 20 dias doente, até chegar minhas férias e eu conseguir descansar e fazer o tratamento”, conta Sandra.
A cientista social Thaís de Souza Lapa, Coordenadora do Laboratório de Sociologia do Trabalho (LASTRO-UFSC) reflete sobre esta permanência do/a trabalhador/a doente em sala de aula. “Não se pode admitir que uma categoria tão importante como os/as trabalhadores/as da educação, sejam tão desvalorizados monetariamente e não tenham dignidade em suas condições de trabalho, sendo tratados como se fossem irrelevantes. O governo cobra como se eles tivessem que provar que estão trabalhando, quando o que percebemos na pesquisa, é que estão trabalhando sem condições físicas e mentais, por que não querem atrasar o conteúdo”. Para Thaís, isso configura o conflito político, em que o empregador acha que estão fazendo corpo mole, quando na verdade os/as trabalhadores/as estão trabalhando a mais e doentes.
ADOECIMENTO MENTAL É O GRANDE VILÃO NA EDUCAÇÃO - A pesquisa identificou que a maior parte das morbidades dos/as trabalhadores/as na educação estão relacionadas à saúde mental. Das 1.423 respostas sobre as doenças que o acometeram, 934 responderam terem alguma morbidade relativa à saúde mental.
Para Thaís, o adoecimento mental acompanha uma tendência mundial. “No passado tínhamos mais relatos de adoecimento físico, agora os psíquicos e repetitivos ganharam mais espaço. É uma característica da pressão dos empregadores e da carga de trabalho”, explica ela.
Outro dado que chama atenção e indica a gravidade da saúde dos/as trabalhadores/as na educação, é o alto índice de pessoas que tomam medicamentos contínuos e controlados 52,47% indicaram ao menos uma medicação. Ou seja, mais da metade dos/as trabalhadores/as na educação usam medicação contínua ou controlada, um índice bastante alto.
“A gente está falando de uma categoria predominantemente feminina, estamos falando basicamente de mulheres que estão adoecendo”, destaca Thaís.
TRABALHADORES/AS DA EDUCAÇÃO CATARINENSE SE INFECTAM MAIS DE COVID QUE A MÉDIA NACIONAL - Como resultado da pergunta “Se você já se infectou com o coronavírus?”, 27,9% responderam que sim, ou seja, quase o triplo da média nacional, que no mesmo período, em outubro de 2021, era de 10,2% e quase o dobro da média estadual que é de 16,5% neste mesmo período.
De acordo com Evandro, este é um dado alarmante que preocupa nesta retomada de aulas com a crescente de casos de Covid-19, segundo ele, o Governo do Estado precisa garantir um ambiente saudável, vacinação para toda a comunidade escolar e o cumprimento dos protocolos de segurança.
CAMPANHA DO SINTE/SC PROPÕE AÇÃO POR UM AMBIENTE SAUDÁVEL – De acordo com Evandro Accadrolli, depois de ter este diagnóstico do quadro geral da categoria, o sindicato agora vai mapear trabalhadores/as da educação que possam contribuir em seu local de trabalho com contato direto com um grupo de trabalho do SINTE que pensará ações para os casos de adoecimento nas escolas.
De acordo com Evandro, é necessário um envolvimento de toda a categoria para pensar ações conjuntas e cobrar do Governo do Estado o respeito e dignidade a quem educa em Santa Catarina. “Nossa luta é para mostrar a realidade que vive a educação no estado e a urgência de políticas de valorização e ambiente saudável a todos/as os/as trabalhadores/as da educação”, ressalta Evandro.
Acesse a pesquisa: https://sinte-sc.org.br/files/1081/sinte_sc_campanha_saude_do_trabalhador_livreto_v02.pdf
Acesse live que debateu o resultado da pesquisa: https://youtu.be/Abq4G1HnBQk