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Direitos Humanos pesquisam e combatem as células nazistas em SC e no Brasil

Além de investigar o surgimento e a atuação de grupos neonazistas, outra comitiva do CNDH investigou a situação dos moradores em situação de rua onde vigora a lei de internamento compulsório

Publicado: 15 Abril, 2024 - 13h40

Escrito por: Sérgio Homrich

No transcorrer da semana passada o Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH) e integrantes do Conselho Nacional de Direitos Humanos (MNDH) visitaram algumas cidades de Santa Catarina com o objetivo de identificar e avaliar a dimensão desse fenômeno que é o aumento expressivo do número de células nazistas em terras catarinenses e no Brasil. A Missão, como está sendo chamada a luta dos movimentos de direitos humanos, esteve em Florianópolis e Blumenau. Além de investigar o surgimento e a atuação de grupos neonazistas, outra comitiva do CNDH investigou a situação dos moradores em situação de rua da capital e de outras cidades onde vigora a lei de internamento compulsório. Na manhã de quarta-feira (10), na sede da Polícia Federal, na capital, aconteceu uma reunião a respeito da proliferação de células neonazistas no estado.

Integrantes do Conselho Estadual dos Direitos Humanos (presidido pela advogada Erli Camargo), do Movimento Humaniza Santa Catarina, liderado pela ex-senadora e ex-ministra de Direitos Humanos Ideli Salvatti, e integrantes da comitiva do Conselho Nacional de Direitos Humanos, coordenada pelo advogado e conselheiro Carlos Nicodemos, se reuniram na UFSC, em Florianópolis, para trocarem informações e estratégias de enfrentamento a esse fenômeno. De acordo com Nicodemos, conselheiro estadual do Rio de Janeiro, trata-se de uma investigação, da qual ele é o relator, que acontece em todo o território nacional e faz uso de diversas ferramentas, sendo uma delas a visita aos locais identificados com células nazistas. Essa investigação deve encerrar ao final deste ano, em todo o Brasil. O relatório final será encaminhado à ONU (Organização das Nações Unidas) e ao governo brasileiro.

Foi a ABI (Associação Brasileira de Imprensa), representada na comitiva pelo jornalista Marcelo Auler, colunista do portal Brasil 247, quem encaminhou a denúncia sobre células nazistas ao Conselho de Direitos Humanos do Rio de Janeiro, no dia 13 de junho de 2023, quando foi criada a relatoria especial para fazer essa investigação. “... depois de já registrar alta significativa, passando de 20, em 2018, para 69 registros em 2019, as apurações contabilizadas pela Polícia Federal somaram 110 no ano de 2020, o que representa um crescimento de 59% e uma média de um inquérito aberto a cada três dias”, diz trecho da denúncia encaminhada pela ABI ao Conselho Nacional. O relator Carlos Nicodemos informa que “uma pesquisa da Unicamp aponta Blumenau com 63 células nazistas identificadas”. Segundo ele, esse é um problema mundial diretamente relacionado ao discurso de ódio, pensamento fascista e defesa do estado totalitário.

Denúncias em Santa Catarina

A advogada do Humaniza Santa Catarina, Susan Zilli, protocolou denúncia junto à Procuradoria Geral da União (PGU) cobrando providências contra a atuação da FOPE (Força Patriótica Escolar), uma entidade particular que não representa o Exército Brasileiro e cujos integrantes se vestem como soldados, de fazer propaganda dentro das escolas. “Eles oferecem cursos e treinamento para jovens que queiram ingressar no serviço militar e chamam crianças menores de cinco anos para brincarem com armas”, afirma a advogada, que apresentou um dossiê com fotos provando a tentativa de aliciamento por parte dessa tal FOPE.

A ex-senadora Ideli Salvatti – que foi atacada nas redes sócias recentemente por falar da existência de células nazistas no estado – lembrou das ameaças de morte sofridas por cinco vereadoras de Santa Catarina, da cassação da vereadora de São Miguel do Oeste, Maria Teresa Capra, por denunciar saudação nazista, de reunião realizada na Alesc às vésperas da tentativa do golpe do 8 de janeiro com os defensores das armas e, inclusive, de um ato antifeminista, ocorrido no Dia Internacional da Mulher 2024, também na Alesc, e protagonizado pela deputada do PL, Ana Campagnolo.

A vereadora Maria Teresa Capra, presente à reunião de quarta-feira, teve seu mandato recuperado por conta de liminar. Ela foi ameaçada de morte e precisou sair da cidade durante cinco meses. A professora e historiadora Marlene de Fáveri apresentou a segunda edição do seu livro “Memórias de (uma) outra guerra: cotidiano e medo durante a Segunda Guerra em Santa Catarina”, recém-lançada, e contou sobre as difamações nas redes sociais e as ações judiciais ajuizadas contra ela pela atual deputada Ana Campagnolo. O jornalista e vereador suplente do PSol, em Florianópolis, Leonel Camasão citou casos de violência sofrida por pessoas LGBTQIA+ no estado e pediu providências.

Painel temático

Às 18 horas, aconteceu a terceira atividade do dia a respeito do tema, com a realização do painel temático “Território, cultura, instituições e enfrentamento: neonazismo e manifestações de caráter neonazista em Santa Catarina”. Estiveram presentes a vice-reitora da UFSC, Joana dos Passos, a pró-reitora de Pesquisa do IFSC, Flávia Maia Moreira, e a secretária de Aperfeiçoamento Institucional da UFSC, professora Luana Renostro Heinen. As palestras, abertas ao público, foram proferidas pelos professores Odilon Caldeira Neto, coordenador do Observatório da Extrema Direita e do Laboratório de História Política e Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) – on line -; João Klug, doutor em História pela UFSC e coordenador do Laboratório de Imigração, Migração e História Ambiental; Lia Vainer Schucman, doutora em Psicologia Social pela USP, autora do livro “Entre o Encardido, o Branco e o Branquíssimo: Branquitude, Hierarquia e Poder na Cidade de São Paulo”.