Criatividade e superação para denunciar desgoverno Bolsonaro em Jaraguá do Sul
Manifestantes realizam instalação para denunciar a ameaça do fascismo e defender a democracia no país
Publicado: 29 Junho, 2020 - 10h20 | Última modificação: 29 Junho, 2020 - 10h33
Escrito por: Sérgio Homrich
O passeio ao lado do Museu da Paz ficou foi ornamentado com placas, faixas, cartazes e cruzes em um protesto contra o governo Bolsonaro, contra o fascismo que nos espreita, o racismo que mata, em defesa da democracia e em respeito às milhares de mortes decorrentes da Covid-19 no país. Dirigentes sindicais, professores e estudantes realizaram manifesto no centro de Jaraguá do Sul, na manhã de sábado (27), apesar da chuva persistente e do isolamento social a que estamos submetidos.
Com máscaras, álcool gel e mantendo distância conforme as orientações da Organização Mundial da Saúde, os representantes da Intersindical dos Trabalhadores e do Fórum de Lutas fizeram protesto silencioso contra a irresponsabilidade com que o governo Bolsonaro trata a crise sanitária provocada pelo coronavírus, que já ceifou a vida de mais de meio milhão pessoas no mundo.
O sentimento de perda pelas mais de 54 mil mortes por Covid-19 no Brasil estava escrito nos cartazes, assim como a solidariedade aos profissionais de Saúde e demais trabalhadores que estão na linha de frente do combate à doença. Outras faixas diziam: "Estudantes em luta contra o genocídio da população negra", "Por um mundo livre de toda forma de opressão", e ainda "País mudo não muda. Se você respira, essa luta também é sua". Nas arquibancadas, a instalação apresentava muitas cruzes, simbolizando os ataques do governo Bolsonaro às pesquisas, aos direitos humanos, aos sindicatos, meio ambiente, aos povos indígenas, à Educação e Cultura e à liberdade de imprensa, às vítimas do coronavírus.
"É um ato simbólico, por ser junto ao Museu da Paz, queremos difundir as ideias da convivência humana, da não violência, contra o racismo", explica o presidente do Sindicato dos Servidores Municipais (Sinsep), professor Luiz Cezar Schorner, "é preciso que a gente tenha democracia e respeito à diversidade".
O professor de geografia na rede municipal de ensino, Luiz Eduardo Petry também organizou o ato "porque este governo que temos no Brasil comete uma série de erros e é importante que as pessoas saibam que não estão sozinhas". Ele lembra que nossa cidade votou em massa nesse governo, "mas há pessoas que não concordam com nada do que está acontecendo".A pandemia veio no pior momento possível, "na pior gestão pública possível, porque Bolsonaro despreza a doença, desde o começo, acha que foi uma gripezinha, dá muita atenção para a economia e pouca para a saúde", critica Luiz Eduardo. Para ele, Bolsonaro é culpado por uma boa parte das mortes ocorridas no país, "pelo desdém, por não tomar as atitudes necessárias para minimizar o problema". Sobre o comportamento político do governo: "Entregando ministério para genro de dono de emissora de televisão, se aliando ao centrão, a velha política que tanto falava mal, tudo para se defender da aprovação de um processo de impeachment".
Marcondes Frontório, dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos lembra que esses atos (sem aglomeração, mantendo o distanciamento social) são uma determinação da CUT para demonstrar à população o que vem acontecendo no país. "O governo federal não atende às necessidades da classe trabalhadora, retira direitos cada vez mais e não dá a mínima para a pandemia, tanto que não temos ministro da Saúde", critica. "Protestamos para que o governo comece a pensar em política pública para a saúde, que conscientize a população, que faça barreiras sanitárias", adverte Marcondes. "Se continuarmos com esse número grande de infectados - 30 mil em um único dia - daqui a pouco chegamos a meta que Bolsonaro quer: serão 150 milhões de brasileiros infectados e 7 milhões de pessoas que podem vir a óbito".
Para o coordenador regional do Sinte, professor Francisco Assis Rocha, o ato marca posição em Jaraguá do Sul. "A cidade tem uma característica bastante conservadora, e uma proposta de política progressista, que pode ser implementada na defesa daqueles que não tem voz nem vez, gera desconforto em algumas pessoas". Na relação pandemia e Bolsonaro, Francisco é taxativo: "É um governo genocida, tem ideias Malthusianas, ou seja, a intenção de eliminar de fato uma parcela da sociedade e criar o caos, a sua proposta é reinar a partir do caos".
A professora Vera Lúcia Freitas, também diretora do Sinte Estadual, reforça a luta pelos vários direitos que temos perdido nos últimos tempos, por isso o movimento tem a presença das mais diversas organizações - mulheres, estudantes, étnicos e de gênero. "É democrático e pacífico, queremos dar visibilidade e voz àqueles que representamos e no sentido de lembrar que democracia é governo do povo. Não compactuamos com as ações de Bolsonaro, enquanto houver opressão estamos aqui, lutando pela não retirada de direitos".
Técnica administrativa no Campus Jaraguá do IFSC e diretora do Sinasefe, Fernanda Rosá também ajudou a organizar o Ato. "O desgoverno Bolsonaro está cada dia pior e, agora, o novo ministro da Educação inicia mentindo que tem mestrado ou doutorado e foi provado que não tem essa titulação". Fernanda critica a nomeação de um interventor para o IFSC em Jaraguá do Sul, pelo então-ministro Weintraub: "Em vez de nomear o reitor eleito, escolhido por todos os servidores e alunos, no ano passado, chamou um candidato que perdeu e que não aceita decisões do Conselho Superior - órgão máximo da instituição". Como exemplo, cita que o novo reitor quer voltar às aulas presenciais no dia 3 de agosto, neste contexto de pandemia e crescimento do número de casos. Em relação à pandemia, Bolsonaro é totalmente irresponsável, como nunca antes na história desse país, na avaliação de Fernanda. "Precisou a Justiça mandar ele usar máscara quando sai às ruas".
Professor do IFSC Jaraguá do Sul e dirigente sindical, Júlio Bortolini também critica a omissão do governo Bolsonaro em relação ao combate á pandemia: "Dá sinais de que vai auxiliar governadores e prefeitos, promete e recua, continua tratando a Covid-19 como uma gripezinha, não segue os padrões de segurança necessários para evitar o contágio". Júlio reforça que "a gente precisa se manifestar para mostrar à população que o vírus é perigoso e que vidas negras estão sendo mortas pela Polícia, precisamos defender a democracia, que é algo tão importante nesse momento da nossa história". Sobre a presença intensa de militares no governo Bolsonaro, finaliza: "Soa muito como algo antidemocrático. Se o governo é civil, tem que ser ocupado por civis. Os militares são importantes para defender a população e o Brasil, não como administradores da máquina pública".