MENU

Conferência Livre da CUT-SC de Políticas para Mulheres elege delegadas para nacional

Mais de 100 mulheres debateram propostas para a Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, com destaque para a redução da jornada, o fim da escala 6x1 e o combate ao assédio no trabalho

Publicado: 07 Agosto, 2025 - 09h59 | Última modificação: 07 Agosto, 2025 - 10h07

Escrito por: CUT-SC

notice

A CUT-SC promoveu, na noite desta quarta-feira (6), a Conferência Livre de Políticas para as Mulheres, reunindo mais de 100 mulheres de forma híbrida, com participação presencial na sede do Sintrafi Floripa e virtual pelo Zoom. Com o tema “Redução da Jornada de Trabalho e o fim da escala 6x1”, o encontro foi uma etapa preparatória rumo à V Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, que acontecerá em Brasília.

Durante a plenária, foram aprovadas três propostas prioritárias, que serão levadas pela delegação catarinense à etapa nacional. A primeira propõe a redução da jornada semanal para 30 horas, sem redução salarial, como forma de assegurar tempo para o cuidado, o descanso e a participação social das mulheres. A segunda defende o fim da escala 6x1, com a instituição de jornadas humanizadas que garantam pelo menos dois dias de descanso por semana. Já a terceira trata da implementação de protocolos obrigatórios de prevenção e combate ao assédio moral e sexual nos locais de trabalho, com canais seguros de denúncia, acolhimento às vítimas e formação contínua.

Também foram eleitas três delegadas titulares e três suplentes, que representarão a CUT-SC na etapa nacional, com a missão de defender essas pautas no debate sobre políticas públicas para as mulheres.

Redução da jornada: saúde, tempo livre e igualdade de gênero

Um dos pontos altos da conferência foi a exposição da economista Vivian Machado, do DIEESE, que apresentou uma análise sobre os impactos da jornada de trabalho na vida das mulheres. Ela destacou que o Brasil vive uma realidade marcada por extremos: de um lado, o alto desemprego estrutural, e de outro, a sobrecarga de quem está empregado, com jornadas extensas e intensas. Esse cenário é agravado pela flexibilização do tempo de trabalho, impulsionada por inovações tecnológicas e retrocessos na legislação.

Segundo dados do IBGE de 2023, as mulheres que trabalham 49 horas ou mais por semana chegam a acumular jornadas totais que ultrapassam as 67 horas semanais, quando se soma o trabalho remunerado ao não remunerado. Para Vivian, a jornada de trabalho total das mulheres evidencia o quanto a redução da carga horária é urgente, principalmente para aquelas que enfrentam jornadas duplas e triplas, com acúmulo de responsabilidades no cuidado familiar e nas tarefas domésticas.

A economista também apontou os efeitos nocivos da escala 6x1, que obriga trabalhadoras e trabalhadores a atuarem seis dias consecutivos com apenas um de descanso. Essa lógica exaure física e mentalmente, restringe o convívio social e familiar, compromete a saúde e reduz a qualidade de vida. Estima-se que mais de 20 milhões de pessoas estejam submetidas a essa escala no país, sendo metade na informalidade. Jovens e mulheres, especialmente em setores como comércio e serviços, estão entre os mais afetados.

Vivian reforçou que a redução da jornada é um imperativo não só social, mas econômico e sanitário. A medida pode gerar empregos, melhorar a saúde da classe trabalhadora, diminuir gastos com adoecimentos, aumentar a produtividade e elevar a arrecadação da previdência social. Ela citou experiências internacionais, como o projeto “4 Day Week” no Reino Unido, onde empresas adotaram semanas de quatro dias com manutenção de salários e viram reduzir em 71% os casos de burnout. A iniciativa já começou a ser testada no Brasil com apoio da FGV e vem mostrando que é possível trabalhar menos horas com mais foco, bem-estar e qualidade de vida.

Pesquisas recentes confirmam o apoio popular a essas pautas: 70% das mulheres brasileiras defendem a redução da jornada, segundo a Folha de São Paulo, e 97% dos trabalhadores submetidos à escala 6x1 querem o fim dessa lógica, de acordo com o Observatório do Estado Social. 

Mobilização das mulheres CUTistas rumo à etapa nacional

A conferência foi organizada pela CUT-SC, com apoio do Sintrafi Floripa e da Fetrafi-SC. Por meio das conferências livres, instrumento previsto no regulamento nacional, é possível aprovar propostas e eleger diretamente delegadas para a conferência nacional, ampliando a voz dos movimentos sociais e das trabalhadoras no processo.

Após quase uma década sem ser realizada, a V Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres marcará a retomada do diálogo e da construção coletiva de políticas públicas, com o lema “Mais direitos, participação e poder para as mulheres”.