Escrito por: Sílvia Medeiros

A gurizada da ocupação

Mais de 20 escolas e institutos federais estão ocupados em Santa Catarina. Os estudantes reivindicam a retirada da Medida Provisória 246 da reforma do Ensino Médio e a votação contrária ao Projeto 55 (antigo 241) que congela os gastos dos investimentos públicos

Sentados na segunda fileira de cadeiras do auditório Antonieta de Barros, quatro estudantes prestavam atenção no debate. Entre uma mensagem e outra pelo celular, um deles exclama uma palavra em som bem alto, demonstrando extrema animação pelo recado recebido via telefone. Eles se abraçam e depois começam a divulgar a informação para as pessoas que estão a sua volta. “Aprovou, a assembleia aprovou, nós vamos continuar com a ocupação!”.

Alysson, Gabrieli, Cris e Kelli viajaram mais de 500km, de Chapecó a Florianópolis para participar da Audiência Pública sobre a Reforma do Ensino Médio que aconteceu na Alesc dia 7 de novembro. Eles são os representantes da ocupação da Escola de Educação Básica Tancredo de Almeida Neves, que está ocupada há mais de duas semanas. No dia da audiência, era também o dia de mais uma assembleia dos estudantes para decidir se continuariam com a ocupação.

Apesar da pouca idade e da aparência juvenil dos quatro adolescentes, algo estava muito maduro pra eles: a luta é pelos direitos de todos, dos que estudam em escolas públicas, dos que não estudam e até de quem não apoia a ocupação.

Ansiosos para falar, mas muito organizados, Alysson pede “Um de cada vez fala, sem interromper o outro”, orientação antes de começarem a contar o que os levou a tomarem essa decisão. “Não foi algo sem pensar, primeiro os professores nos explicaram o que estava acontecendo e do que se tratava essa PEC 241, depois aprendemos mais sobre o MP 246. Nós não temos grêmio estudantil, dai um grupo de estudantes chamou todos os alunos e em assembleia todos votaram, que o melhor caminho para impedir que aqueles projetos sejam aprovados, era a ocupação”.

 “A gente continua tendo aula, só que agora de uma forma diferente. Temos aulas diversificadas em que professores de universidades vão até a nossa escola e dão aulão pra gente. Aprendemos tudo, desde matérias que caíram no Enem, até um estudo de cada artigo da PEC 241. A gente não impede ninguém de estudar, assim como temos direito de lutar, outros têm o direito de assistir a aula”, explicaram os estudantes ao relatarem que os que não apoiam a ocupação, continuam tendo aula. Mas segundo eles, é um pequeno grupo, no máximo duas ou três turmas.

A escola estadual Tancredo Neves é uma das que está dentro do Projeto Inovador, que oferece aula em tempo integral. Uma das propostas da Medida Provisória 246, da Reforma do Ensino Médio, prevê o aumento das escolas em tempo integral. Uma ideia aceita por toda a sociedade, porém os estudantes que já estão dentro desse modelo, levantam uma grave preocupação. “Como que o governo quer colocar um projeto de escola em tempo integral e ao mesmo tempo outro que congela os gastos públicos? Como que ele vai fazer para ter uma estrutura de escola que abrigue os alunos durante o dia todo. Essa conta não fecha”, calculam os estudantes.

Indagados sobre a forma com que algumas pessoas da sociedade tratam as ocupações, eles dizem que a imprensa conta coisas pra deslegitimar a luta. “A gente não esta invadindo, porque a escola já é nossa! A escola é pública, sustentada com dinheiro dos nossos pais que trabalham e pagam impostos. A gente esta lutando por todos, porque temos certeza, se essa PEC for aprovada todos nós seremos afetados”.