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1º dia do Congresso da Agricultura Familiar debate alternativas para futuro do campo

Com diversas mesas de debates, a programação do congresso debateu as alternativas para os trabalhadores da agricultura familiar

Publicado: 11 Outubro, 2023 - 08h24 | Última modificação: 11 Outubro, 2023 - 11h19

Escrito por: Pricila Baade/CUT SC

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Os diversos percalços não desanimaram os mais de 400 trabalhadores e trabalhadoras da agricultura familiar que vieram até Chapecó participar do IV Congresso da Agricultura Familiar nesta terça-feira (10). O primeiro desafio apareceu nos dias anteriores à realização do congresso: após as fortes chuvas que alagaram municípios em todo o estado, a coordenação decidiu que o evento aconteceria de forma híbrida para possibilitar a participação dos agricultores que não conseguiriam se deslocar até Chapecó.

No entanto, outro problema surgiu minutos antes do Congresso iniciar: a energia elétrica caiu de forma inesperada. Mesmo sem luz a coordenação arranjou uma alternativa para garantir que o congresso acontecesse: um carro de som – emprestado pelo Sindicato dos Servidores Municipais de Chapecó e região – possibilitou o início dos debates. 

Com uma mesa de abertura política muito ampla – com representações do governo federal, de movimento sociais, da CUT-SC, vereadores, deputados estaduais e federal, superintendentes estaduais e de entidades parceiras da FETRAF-SC – as lideranças reforçaram o papel da agricultura familiar para a produção de alimentos saudáveis e da urgência do governo priorizar as políticas de incentivo e apoio aos pequenos agricultores.

 

A presidenta da CUT-SC, Anna Julia Rodrigues, reforçou a importância da agricultura familiar na história da central "Este ano a CUT completa 40 anos e desde o início da construção da nossa história os agricultores familiares foram protagonistas nas nossas lutas". 

O coordenador estadual da FETRAF-SC, Jandir Sezler, declarou oficialmente aberto o congresso e falou das expectativas para a realização do evento “Eu estava com um misto de preocupação e emoção. Preocupação pelos 70 companheiros que não puderam estar aqui por causa dos alagamentos e do risco de deslizamentos, mas de muita emoção porque estava com saudades de ver esse galpão cheio de homens e mulheres de garra”.

Análise de conjuntura da agricultura familiar: perspectivas e desafios em foco

Para refletir sobre a situação da agricultura familiar na conjuntura atual, a programação do Congresso contou com uma mesa com a participação do deputado federal Pedro Uczai (PT) e do Diretor da CONTRAF Brasil Marcos Rochinski.

O Diretor da CONTRAF Brasil falou sobre a preocupação de quem está pautando o governo Lula “Temos que ter clareza de qual é a nossa pauta e nosso papel. Eu tenho certeza que o Brasil será referência internacional, a questão com quem Lula pode contar. Tudo está permanentemente em disputa, não podemos achar que por termos elegido um governo popular está tudo bem. Não podemos nos contentar com políticas compensatórias, precisamos trabalhar para que tenhamos prioridade no orçamento público”.

Marcos Rochinski reforçou o papel do movimento sindical nesta disputa “Este não é momento dos sindicatos fazerem ações burocráticas. O momento é de conversar com o povo e conquistar mentes e corações para a nossa pauta”.

O deputado federal Pedro Uczai falou sobre os dois futuros possíveis para a agricultura familiar: um da mercantilização da agricultura familiar, submetido ao modelo de produção econômica hegemônico, e outro da transição agroecológica. “Nós precisamos enfrentar a contradição destes dois modelos de produção, porque grande parte da agricultura familiar incorporou o modelo de produção dominante. Se o plano para o futuro for fazer a transição agroecológica é preciso ter assistência técnica e projeto para que os agricultores possam decidir por isso. Se nós não cuidarmos é o agronegócio que vai produzir a agricultura regenerativa”.

Uczai falou que é urgente que o governo priorize e crie projetos de incentivo à produção agroecológica “O governo precisa decidir efetivamente que futuro quer para a agricultura. Não tem saída para o planeta se não for um modelo que produza renda cuidando do meio ambiente”.

Agricultura familiar em um mundo de transformações: o papel do Brasil diante das crises globais e seus desafios

A segunda mesa de debate contou com a participação do Diretor Técnica do DIEESE, Fausto Augusto Júnior, e do professor e escritor Antônio Andrioli, e debateu como as transformações no mundo estão afetando a agricultura familiar.

Fausto trouxe um panorama sobre como as transformações do século XXI trouxeram novas configurações para as desigualdades do nosso país. Uma delas é que o Brasil é um país jovem que está envelhecendo: 25% da população tem até 25 anos e 15% tem acima de 60 anos. “Isso traz grandes desafios para a sociedade e para a cadeia produtiva. A população jovem não será suficiente para substituir a mão da obra da população que está envelhecendo”.

No campo, o cenário é ainda mais desafiador: 46% de quem trabalha no mundo rural está acima dos 55 anos, só 12% tem até 35 anos. “Para segurar o jovem no campo é preciso ter investimento na pequenas propriedades e combater as desigualdades tecnológicas. Só 15% das pequenas propriedades tem um trator e só 28% das propriedades rurais tem acesso à internet no Brasil”.

O professor Antônio Andrioli abordou sobre o desafio da produção sustentável “Uma das coisas mais desafiadoras para a humanidade é ampliar a produção sustentável, mas o agricultor familiar já trata disso há anos. Ele sempre cuidou da terra porque sabe que se destruir os recursos naturais vai destruir o que vai gerar o sustento para os seus netos”. 

Andrioli destacou que o agricultor familiar se preocupa mais em produzir alimentos saudáveis, porque ele consome o que colhe “O grande desafio diante das condições climáticas é produzir alimento saudável sem industrializar a forma de produção. Isso só a agricultura familiar consegue fazer. Para acabar com a fome e o desmatamento no Brasil é preciso investir na agricultura familiar”.  

Resultados do projeto estratégico da FETRAF-SC

 A programação do primeiro dia do IV Congresso da Agricultura Familiar encerrou com um painel que apresentou os avanços e inovações do projeto estratégico que está sendo implantado pela FETRAF-SC, feita pelo coordenador de projetos e técnico de campo do ICAF-SC, Joel Tomazi. “Nosso projeto estratégico não é uma volta ao passado. Ele tem três objetivos centrais: aumentar a produtividade, diminuir a produção de custos, produzir alimentos saudáveis e preservar o meio ambiente”.

O projeto tem o objetivo de resgatar a identidade e reafirmar o papel da agricultura familiar na produção de alimentos saudáveis, reforçando a importância das sementes como um dos fatores centrais na redução de custos e na reconstrução da autonomia das famílias.