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Ensino Híbrido: reflexões para o debate

Publicado: 09 Dezembro, 2020 - 00h00 | Última modificação: 09 Dezembro, 2020 - 09h33

Muito tem se falado ultimamente sobre a implantação do ensino híbrido no Brasil e, em especial no estado de Santa Catarina. A Pandemia, que provocou a suspensão das aulas presenciais, desde meados de março/2020, impôs uma nova realidade em todas as modalidades e ciclos de ensino, incluindo, obviamente, a educação básica, resultando, com isso, na educação a distância, que passou a ser denominada aulas remotas ou atividades não presenciais.

O ano que se avizinha, 2021, ainda não tem o controle da pandemia pelas autoridades públicas sanitárias. Isso, naturalmente nos remete a uma realidade na qual o isolamento social responsável continuará fazendo parte da rotina da população, ao menos no primeiro semestre. E a educação pública não está fora desse contexto. A vacina descoberta está apenas iniciando a sua aplicação no Reino Unido. O desgoverno Bolsonaro que foi incapaz de coordenar uma política nacional para conter o vírus, continuará incapaz de coordenar uma política nacional de imunização, mesmo assim insiste que é possível voltar às aulas presenciais.

Alguns estados estão anunciando, pelos seus governos, planos de vacinação a partir de 2021. No entanto, as prioridades apontadas reservam-se às categorias profissionais ligadas às áreas classificadas como essenciais: saúde, segurança pública e pessoas na melhor idade. Isso significa, por hora, que os/as profissionais da educação e estudantes não estarão na condição de reivindicar o justo direito à vida, na condição de cidadão/ãs.
Os gestores da educação apontam a possibilidade de retorno às aulas presenciais em 2021, mesmo cientes da necessidade de cumprimento do distanciamento de 1,5m em sala de aula. Isso significa que a quantidade de alunos por sala precisa ser reduzida para além da metade.

Por não haver a quantidade de salas de aula suficientes para dobrar o número de turmas, é que vem sendo elaborado o sistema híbrido na educação; ou seja, as modalidades de aulas presenciais e a distância, em casa, mediada por tecnologias ou não.

Dentre os vários modelos de sistema híbrido é preciso definir se a modalidade presencial é considerada como principal ou como complementar. Essa definição vai balizar as demais operacionalizações, como, por exemplo, quantos dias o aluno vai para a escola: se um ou dois dias, uma semana ou mais; e se outros dias serão a distância.

Há duas formas de desenvolver o ensino híbrido:
a) a que o/a professor/a das aulas presenciais é também o/a professor/a das atividades a distância;
b) um/a professor/a para aulas presenciais e um/a tutor/a para as atividades a distância.
Sendo adotada a forma em que o/a professor/a seja responsável pelas duas modalidades, a forma ideal, no meu entendimento, é a de que seria necessária a redução gradual, na lógica mínima de 50%, de turmas de professores/as, uma vez que terão uma carga horária de trabalho pedagógico demasiada a ser desenvolvida, além da necessidade de formação continuada adequada a nova realidade.

Sendo adotada a forma de contratação de um/a tutor/a para a modalidade a distância, os procedimentos organizativos e pedagógicos serão mais complexos, além de definir se será mediada por uma única plataforma ou se serão utilizadas várias tecnologias que inclusive permitem interação virtual entre os/as estudantes.

A exigência do desenvolvimento de plataforma pública, configura-se em pauta imperativa para que possamos evitar que sejam destinados recursos públicos da educação pública em instituições privadas, bem como o sigilo de informações dos/as professores/as e estudantes sejam de guarda exclusiva do poder público. Além da necessidade de definição da quantidade de alunos/as a serem atendidos/as pelo/a tutor/a, o governo precisa determinar qual estrutura irá garantir ao/à tutor/a.

O planejamento da disciplina deve ser elaborado de forma conjunta pelo/a professor/a e tutor/a, de forma que seja estabelecido o conteúdo a ser desenvolvido na modalidade presencial, assim como o a distância. Também é fundamental estabelecer interação periódica entre o/a professor/a e o/a tutor/a para avaliar, não apenas o/a aluno/a, mas o desenvolvimento do currículo e formação continuada adequada.

O processo de avaliação dos/as estudantes exigirá uma integração, inclusão e diálogo entre o/a professor/a das aulas presenciais e /a tutor/a. Diferente disso estaremos fadados/as a um processo híbrido no qual existe uma carência estrutural, presencial e pedagógica do ensino-aprendizagem.

Em ambas as hipóteses é imprescindível o compromisso do governo em garantir os equipamentos e tecnologias necessárias para que essa nova experiência, ainda que em caráter transitório, possa ser exitosa.

Como percebem, é complexo implantar o sistema híbrido na educação pública que garanta a universalidade e a qualidade do processo ensino-aprendizagem. O debate e a elaboração das melhores propostas pressupõem envolver, não apenas os profissionais da educação, mas os/as estudantes, pais, mães; enfim, toda a comunidade escolar.

Tenho certeza que no debate muito mais elementos surgirão. Vamos a ele.